América Latina
Um continente perdido
Uma desordem… Não é porque vocês veem grandes ondas de migração, o grande tema eleitoral nos Estados Unidos, por exemplo, né? Como nós vamos fazer com os imigrantes? Vamos construir um muro ali para os mexicanos não entrarem nos Estados Unidos. Isso é o Trump falando, por exemplo. Aí vocês veem o norte da África, todo mundo pegando barcos e tentando migrar para o sul da França, para o sul da Grécia, para o sul da Espanha, Itália. Você tem outra onda migratória grande. Vocês viram duas semanas atrás os ingleses, que sempre foram os mais sofisticados da civilização anglo-saxã, cercando um hotel e ameaçando incendiar um hotel no Reino Unido. Ao mesmo tempo, você tem a guerra da Ucrânia, você tem o Hezbollah e o Hamas com Israel, você tem o Maduro aqui falando sobre o avanço no Peto da Iana. Parece que o mundo enlouqueceu e que vai ter uma guerra mundial em mais três ou quatro meses. É uma percepção geral.
Eu quero colocar um pano de fundo para vocês entenderem que são como um mosaico, tudo isso se encaixa num pano de fundo bem mais amplo. Eu esperaria que ao final da nossa conversa vocês se encaixassem e tivessem um clique, uma percepção geral do que está acontecendo. Eu considero isso realmente importante, porque no final vocês vão ver que o Brasil pode navegar através dessa crise ou pode continuar como a Atlântida, o continente perdido. O que aconteceu com o Brasil e a Argentina, mas não vai acontecer isso, não. E eu estou falando como analista, não estou falando como, ah, o ministro, eu não estou falando como um eleitor, eu estou falando como um analista. Eu quero que compreendam o que está acontecendo.
É uma manifestação conservadora no Ocidente, onde a direita ganhou na Hungria, ganhou na Polônia, ganhou na República Checa, ganhou na Eslováquia, ganhou na Croácia, ganhou em Portugal, ganhou na Nova Zelândia, ganhou na França, ao contrário do que se diz no Brasil. No Brasil se diz, não, a esquerda ganhou na França. Não, quem sabe somar sabe que eram 80 congressistas e depois da eleição tinha 140. São quase 50% de aumento. Então a direita avançou. Ah, mas não avançou tanto quanto avançou no Parlamento Europeu. Claro, porque o francês, quando vota num representante no Parlamento Europeu, ele vota na direita, ele vota em alguém que vai defender a França lá, os conservadores contra os imigrantes, etc. Só que quando ele vota dentro da França, ele gosta de se aposentar aos 18 anos, ele quer o 18º salário, ele quer as coisas que o estado da previdência social pode fornecer. Mas a verdade é que a direita está subindo no mundo inteiro. É uma evidência conservadora e eu queria que vocês entendessem isso, porque senão fica parecendo, ah, de repente aparece um Milei, ganha a eleição, todo mundo, puxa, o professor cabeludo ganhou a eleição. Aí o Bolsonaro ganha aqui, ah, culpa do Bolsonaro. Não esquece que você não consegue reprimir um fenômeno que tem 60, 70 milhões de pessoas. Está acontecendo num específico, ou você entende o específico, ou você vai ficar numa guerra permanente. O Brasil vai entrar numa guerra civil porque não estão entendendo o que está acontecendo.
Nós temos que focar nos problemas. Os problemas, por exemplo, foram analisados aqui, quando um Caiado fala, ó, a segurança é o seguinte, qual é o maior bem que um ser humano tem? A própria vida. Tá todo mundo seguro quanto à vida no Brasil? Quantos são os assassinatos por ano? Por que o Buel ganhou em Salvador? Porque acabou a direita e a esquerda em El Salvador. Acabou tudo, tirou os bandidos todos da rua, prendeu todo mundo, acabou o negócio de direita e esquerda. Quem tá em crise não é uma economia de mercado, não é o… Quem está em crise é a democracia ocidental. É importante o capitalismo entender isso, a classe política tem que entender isso. Então eu vou tentar colocar um pano de fundo para vocês, para vocês encaixarem isso. Por que está essa confusão política? Porque se fosse só no Brasil, você fala, ah, confusão política no Brasil, não. Vocês estão vendo na França, vocês estão vendo nos Estados Unidos, vocês estão vendo na Itália. O que que o Buel tem em comum com a Meloni? A Meloni tá contra a migração e está a favor da lei e da ordem. É uma ocorrência conservadora contra a criminalidade, contra o descaso, contra a imigração em massa. O que que o Trump diz? Vou tirar os imigrantes ilegais. Então eu quero que vocês entendam essas especificações e é relativamente simples de entender.
Nós estamos no episódio final de um longo ciclo de crescimento que começou no pós-guerra. Eu vou chamar, por falta de um nome mais complexo até, por simplicidade, eu vou chamar da Paz Americana (Pax Americana). Foi simplesmente o seguinte, pela primeira vez na história da humanidade teve uma guerra mundial, quando acabou, em vez de ser uma guerra de espólio, em vez de condenar reparações, tinha dado errado na Primeira Guerra Mundial, quando acabou, botar as reparações sobre os alemães, preferiram eles fazerem uma Segunda Guerra do que ter que pagar as reparações. Disse isso, inclusive, foi um economista famoso, foi que previu uma continuação dos problemas globais, exatamente porque não houve essa percepção. Vocês vão ver que a guerra da Ucrânia, o Hezbollah, são episódios em ação. Então vamos ver essa grande configuração, é relativamente simples de entender. Acabou a Segunda Guerra Mundial, os americanos lançam o Plano Marshall e reconstrói os aliados. França e Inglaterra são reconstruídos rapidamente com 100 bilhões de dólares ao longo de 10 anos. Quem é o maior inimigo dos americanos naquela época? A Alemanha. Não foi derrotada a Alemanha de Hitler? 10 anos depois, 15 anos depois… E quem fez isso foram os Liberais Democratas, o caminho da prosperidade, que é uma expressão que eu gosto de usar. Um grande liberal alemão, Ludwig Erhard, ele liberalizou… Nós conversamos em lei de liberdade econômica, em abertura de economia, em facilitar investimentos internacionais. Isso foi o que o Erhard fez com a Alemanha imediatamente no pós-guerra e a Alemanha, de país destruído, aniquilado, virou a segunda maior potência econômica do mundo rapidamente. Logo depois, eles reconstruíram o Japão também. Foram os Liberais Democratas. O Japão virou a terceira economia mais forte do mundo, 15, 17, 18 anos depois. Ou seja, foi uma história de inclusão econômica no capitalismo. Foi a globalização. As economias de mercado começaram a engolir o mundo inteiro e o mundo inteiro começou a sair da miséria. 4 bilhões de eurasianos vieram da miséria, as vítimas do socialismo como doutrina econômica. A China de Mao era miserável, faminta, pobre, ignorante. Os americanos, depois de reconstruírem o Ocidente, estendem a mão para a China, tornam a China a nação mais favorecida e ela começa a penetrar nos mercados americanos.
Primeiro, 700 milhões de chineses saem do interior da China, onde eles acordavam, caminhavam no campo de arroz com o pé úmido, comiam arroz e iam dormir de novo no escuro. 700 milhões de chineses saem do interior da China, vão para a costa, as zonas de exportação. Espírito Santo tem agora duas aqui, o lugar certo para fazer é na costa, não é na selva. Está longe da mão de obra, está longe de tudo. Na selva você tem que fazer o contrário. Na selva você tem que fazer a capital da bioeconomia, não é a industrialização. Nós não vamos sujar o Amazonas como sujamos de poluição o Brasil inteiro. Fato, eu não posso dizer isso. O Brasil é um dos menores poluidores do mundo, 1,7% do fluxo anual de poluição. A China, 30%, os americanos, 26%, os europeus, 25% e o Brasil, 1,7%, sendo atacado no mundo inteiro como grande poluidor por desinformação, nossos mesmos, nós brasileiros lá fora, falam do Brasil. Então os chineses descem e se integram. 1 bilhão e meio de chineses saindo da miséria, 1 bilhão e meio de indianos, que também eram países de orientação socialista, saindo da miséria. República Tcheca, Polônia, Hungria, todo mundo saindo da miséria, todo mundo subindo e o Ocidente sente essa tensão crescente dessa competição. Enquanto isso, eu não vou falar no início do Brasil e da Argentina, vou falar no final do nosso futuro. Por enquanto, eu vou dizer só que se tornou um continente perdido. Vocês ouvir